Lá no estúdio onde a Denise dá aulas de costura tem um monte de revistas e livros de moda. E eu passo um bom tempo lá de vez em quando, esperando as costureiras terminarem suas infindáveis conversas sobre tecidos e técnicas e softwares especiais para máquinas de costura que escaneiam seu corpo e vomitam um terno de 3 peças perfeitamente adequado ao seu corpo em 3 minutos e meio.
Bão, um dos livros que eu descobri lá e que vivo folheando é interessantíssimo: a história da moda vista atráves da história da revista Vogue. Fotos e mais fotos, artigos e mais artigos vindos desde o século XIX. E eu estava justamente comentando com a Dê como as coisas eram bonitas e interessantes até... Twiggy. A modelo andrógina e impressionantemente magra que mudou a forma como roupas eram vendidas lá na virada dos '60 para os '70.
A partir daí, parece que todas as revistas femininas ficaram exatamente iguais.
Alguém superpoderoso nesse meio da moda - alguém que, certamente, não gosta de mulher - decidiu que o padrão aceitável para as suas páginas a partir daquele momento seriam modelos magérrimas com cara de doentes e/ou drogadas, e todas as outras seguiram.
E fodam-se todas as mulheres do mundo, bombardeadas dia após dia com a mensagem por trás dessas fotos: se você não é magra a ponto de um refugiado etíope se sentir preocupado com sua saúde, você não é um ser humano interessante, ou que valha realmente alguma coisa.
E foi justamente a Twiggy, agora nos seus 60 anos, quem me chamou a atenção hoje na edição digital d'O Globo. Lá mostra a campanha abaixo, de um creme anti-rugas, e que gerou protestos na Europa por causa da cara de pau da manipulação photoshópica. O anúncio foi proibido - mas a empresa ainda teve a cara de pau de tentar se defender com uma historinha para boi dormir. Se quiser mais detalhes, leia
aqui.
Uéu, tudo o que a gente já se cansou de ver, né? É assim mesmo, não tem nada o que se pode fazer, blá, blá, blá.
Mas aí eu descobri que o número de setembro da revista Glamour publicou essa foto aqui embaixo.
Uma mulher bonita, sorrindo. E ela tem um corpo impressionante! É algo que não estamos acostumados a ver em nenhum lugar: um corpo normal!
A revista não para de receber cartas elogiando a garota da página 194. E prometeu um número com fotos de mulheres normais, de tamanhos normais.
Quem sabe não dá para ter alguma esperança?