Um dia perfeito  

Posted by Max Amaral. in , ,

Bão,
Eu precisava mandar uns documentos para a imigração. Rotina, mas precisava. E, no meio dos documentos, duas declarações, feitas por duas pessoas diferentes, atestando que eu não me casei com a Dê apenas para conseguir um green card e vir lavar louça nos EUA como grande parte dos meus conterrâneos mineiros (na verdade, eu estou aqui lavando louça, mas essa é outra história).
Enfim, precisava dos dois atestados.
Pedi para a Susan, amiga da Denise, dona da escola de costura que ela frequenta, e para o Scott, grande amigo-irmão-caminhoneiro.
E, olha só que coisa, a Denise tinha aula lá na quinta, então, que tal levar o documento e pedir para a Susan assinar?
Ótimo, desde que eu não tivesse cometido um pequeno errinho com uma preposição, o que fez com que o título do documento deixasse de ser (como eu pensava) um Atestado [escrito] pela Susan e se tornasse um Atestado [escrito] sobre a Susan.
Erro detectado, eu só precisava passar o texto para a Denise lá e ela consertava, imprimia, a Susan assinava e me trazia de volta, né?
Não.
A impressora dela não estava funcionando.
O que implicou que eu teria que, na sexta-feira, levar o documento lá para ela. 58 km de ida, 58 de volta.
Bão, fazer o quê, né?
O detalhe é que, quinta-feira, o dia aqui estava lindo. Sol, sem nuvens. 20 graus Celsius. Até abri a porta de vidro da varanda para os gatos aproveitarem o ar fresco. Até sai para dar uma caminhada de calção e camiseta, veja você.
'Cê sabe que o tempo vira, 'cê sabe que o tempo muda... Aí o tempo virou.
Amanheceu uma gigantesca tempestade de neve, a maior do inverno até agora. Ruas congeladas, lama gelada, engarrafamentos.
Deixei a Denise no trabalho e fui. Pensa em um trânsito ruim.
Estava pior.
Mas, heroicamente, cheguei lá. Dei o envelope para ela e ela assinou. As duas folhas. A dela e a do Scott.
Então, mudança de planos: eu, que havia planejado passar no trabalho do Scott na volta para que ele assinasse o documento dele, agora teria que voltar em casa.
Volto para casa.
58 km.
Neve, muita neve.
Cheguei, me lembrei que... o papel havia acabado.
Saio de novo para ir até o supermercado comprar mais papel.
Volto para casa, imprimo outra cópia, ligo para o Scott e combino com ele de nos encontrarmos do lado de fora do prédio onde ele trabalha. Que eu não sei onde é.
Ele me dá as instruções, e o grande ponto de referência é um grande prédio verde azulado, feioso. Depois dele, eu tinha que procurar outro prédio feioso, baixinho, com um toldo vermelho.
Cheguei na frente do prédio baixinho feioso e nada do Scott. Que não tem celular.
Depois de um tempo (nevando, nevando), ele me liga, perguntando onde eu estava. Aparentemente, havia outro prédio baixinho feioso com um toldo vermelho, eu estava no errado.
Encontro o Scott. Nos sentamos em um Starbucks, papeamos um pouco e, finalmente, eu dou o documento para ele assinar.
Mas é o Scott. Um cientista, atento a detalhes. Ele descobriu mais um erro de preposição, um errinho de concordância e eu chamei a Universidade do Colorado de Colorado University, ao invés de University of Colorado. Nada demais.
Nada demais.
Volto para casa, corrijo os erros, volto ao prédio do Scott. Finalmente, ele assina.
Vou para o correio. Neve, neve. Fila quilométrica.
Finalmente sou atendido. Despacho os documentos. Hora de pegar a Denise. O trânsito, finalmente, pára de vez.
Um trajeto de 20 minutos leva 1 hora e meia.
Enfim. Só queria dividir.

This entry was posted on 20 de mar. de 2010 at sábado, março 20, 2010 and is filed under , , . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

7 pitacos

Anônimo  

Aaahhh, essas tempestades de neve fechando o inverno!!!
Isso tudo foi apenas um teste, pra terem certeza de que você REALMENTE adora essa terra e quer ficar por aí. Qual a graça de tudo dar certo de primeira, né??? :-)
Mônica

20 de março de 2010 às 10:26

Max, como diz um ditado popular aqui no Brasil: rapadura é doce, mas não é mole não.

20 de março de 2010 às 15:38

Max, isto me lembra os meus dias de São Paulo. Só que com chuva ao invés de neve. Tem hora que dá vontade de parar o carro e sapatear de ódio na calçada. Se não estivesse tão molhado (ou frio). Tive que apelar para o jogo de formar palavras com as letras dos carros ao redor. Enfim, era só para dizer que sou solidário com a sua dor.

20 de março de 2010 às 16:44

o mundo se repete, né?! rsrsrs

21 de março de 2010 às 20:06

Rsrs...
Me solidarizo a vc, depois de passar por algo parecido no Rio. Só que no lugar de neve, leia-se tromba d'água.
Já viu né?!
Hang in there...

22 de março de 2010 às 07:14

Max, meufi, vou te apresentar o auto-email. Voce se manda emails com os documentos anexados e todas as vezes que precisar, tera sempre um internet cafe amigo pra te socorrer. Simpri assim.

8 de abril de 2010 às 13:34

o pobrema é se lembrar de fazer isso antes de uma odisséia dessas...

8 de abril de 2010 às 13:50

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