Bão,
por onde eu começo?
Acho que a primeira informação importante é: bebês não nascem depois de 9 meses de gestação. A média é 9 meses e meio, ou 40 semanas, depende muito de onde se conta, ninguém entende os critérios. Pelo menos, eu não entendo.
O que se concorda é que, logo no comecinho da gravidez, uma data provável para nascimento é estabelecida, e primeiros filhos tendem a nascer um pouco depois dessa data.
A menos que seja um filho meu.
Henrique nasceu 23 dias antes da hora marcada e a Erica resolveu dar as caras 2 semanas antes da hora.
E como é filha da Denise, resolveu fazer em grande estilo.
Primeiro, não basta ser antes da hora. Tem que ser completamente sem nenhum sinal prévio.
Sabe aquela história de que a hora do parto é avisada por uma série de contrações que vão se tornando cada vez mais próximas? Esquece.
A Dê foi para o trabalho sexta feira, dia 20, se sentindo completamente bem. Por sorte, já que teríamos uma consulta no começo da tarde e ela não iria voltar para a labuta depois, eu a levei de carro às 9 da manhã.
Iríamos ver Scott Pilgrim vs the World no fim da tarde, olha que maravilha.
Eu a deixei lá, levei o carro para trocar o óleo, parei para cortar o cabelo e fui para casa. Resolvi tomar um banho e, assim que saí do chuveiro, o telefone tocou.
A Dê dizia que estava se sentindo esquisita, e me pedia para ir pegá-la.
Estranho.
Mas nada urgente.
Terminei de me vestir e fui lá. E, quando cheguei, vi que alguma coisa errada estava acontecendo. Ela estava na calçada, amparada por dois colegas de trabalho, com uma cara esquisitíssima.
Entrou no carro com dificuldades e disse que era para irmos para a Casa de Partos - sim, não iríamos ter a Erica em um hospital, mas em um ambiente muito mais legal, bem hiporongo, com parteiras, velas, incensos, música da Enya e imagens de deuses hindus mais ou menos fidedignas.
E ela estava mal. Vomitou no carro, tinhas dores excruciantes (como é que se escreve excruciante?), que não aliviavam.
Chegamos lá e as parteiras nos deram duas notícias surpreendentes: 1. A Denise estava em pleno trabalho de parto. 2. As coisas não estavam acontecendo como programado.
Fizeram um ultrassom e viram que a Erica estava com a cabeça para cima. Além disso, não havia praticamente nenhuma dilatação. Tudo muito estranho.
Bão, para um parto natural onde o bebê não está de cabeça para baixo, nós teríamos que ir para o hospital.
Fomos.
Denise não parava de vomitar, e a dor não aliviava.
Era como se ela tivesse tido a primeira contração, mas essa contração nunca tivesse acabado.
Muito estranho.
Chegamos no hospital, as parteiras já haviam acionado o médico. Outro ultrassom e confirmado: Erica estava virada. Outra má notícia: a pressão da Denise estava nas alturas. E a dor que não aliviava, mais o vômito, indicava que algo de muito esquisito estava acontecendo ali.
O médico, que não conhecíamos, era um cara grisalho muito gente fina, parecido com nosso amigo Scott. E ele disse que não havia como tentarmos o parto natural naquele estágio, com a pressão da denise daquele jeito. Topamos, ela entrou nas drogas - grande alívio - e pode, pela primeira vez desde o começo da confusão, relaxar um pouco.
Fomos para a sala de parto, eu me vesti como um figurante de Plantão Médico, mais drogas, montes de gentes zumbindo em volta, panos para evitar a visão do que quer que fosse e, às 15:45 do dia 20 de agosto do ano da graça de nossa senhora do vamoquevamo de 2010, nascia para o mundo Erica Pinheiro Amaral, um ratinho pesando 2,274 kg e medindo 47 cm.
Nós havíamos contratado uma doula, Whitney, que estava lá com a gente. Eu fui para o berçario com a Erica para medições e outros procedimentos enquanto a Dê ficava lá com os médicos e com a Whitney.
Voltamos mais tarde, para uma sala de recuperação, e encontramos a Denise ainda grogue das drogas, mas louca de vontade de conhecer a filha direito. Colocamos uma sobre a outra - no caso, a filha sobre a mãe - e foi aí que me lembrei que os gatos haviam ficado em casa sem nenhuma comida, e que não tínhamos conosco nada para a bebê ou para a mamãe - roupas, fraldas, nada.
Combinei com a Whitney que ela ficaria ali com elas até eu voltar e disparei para casa.
Assim que cheguei, o telefone tocou de novo: A Dê piorou, e foi levada para o CTI, e a Erica foi levada para o berçário. E a Whitney não tinha autorização para ficar em nenhum dos dois lugares.
A segunda fase da odisséia estava começando.
This entry was posted
on 2 de set. de 2010
at quinta-feira, setembro 02, 2010
and is filed under
Família
. You can follow any responses to this entry through the
comments feed
.