o grande Fernando Lara é um amigo dos tempos de faculdade que mora aqui nos EUA sei lá há quanto tempo e, agora se transferiu da Universidade do Michigan para a Universidade do Texas, em Austin. Eu morro de inveja da capacidade que ele tem de pensar sobre arquitetura, e da imensa cultura geral que carrega.
Pois o marido da Letícia (que, infelizmente, parou de escrever no blog dela) escreveu um texto delicioso sobre o Niemeyer lá no blog dele. Então, resolvi transcrever aqui por que o que é bom tem que ser espalhado.
Divirtam-se.
Recado para Oscar
o telefone tocou no meio da noite e ele atendeu rapidamente, saltando da cama como se um século não pesasse nos ombros nem nas pernas. Do outro lado da linha uma voz conhecida mas que ele não ouvia a mais de 15 anos.- Oscar?- Sim, sou eu, quem fala?- É o Roberto, Roberto Burle Marx. Quanto tempo hein Oscar? Nunca pensei que ia demorar tanto pra você vir pra cá. Olha, desculpa o mau jeito de te ligar assim no meio da noite. É que essas conversas só funcionam quando vocês vivos estão meio dormindo meio acordados. Olha Oscar, nós andamos conversando muito sobre você nos últimos anos. Impressionante como os anos passam depressa aqui, acho que diante da eternidade tudo fica minúsculo..... mas sobre isso a gente conversa depois quando você chegar. O Lucio foi contra, acha que você não vai ouvir, mas o resto do pessoal me pediu pra te dar o recado. É o seguinte, nós estamos todos preocupados com o que você anda fazendo atualmente. Cada prédio mal detalhado, mal construído. Para Oscar. Para e vai curtir as homenagens que você merece. Vai desenhar suas mulheres curvilíneas e para de desenhar esses prédios com curvas sem sentido. Se for por dinheiro arruma um jeito de vender seus desenhos. O Corbusier fez isso quando viu que seus projetos já não tinham a mesma força. Eu também passei a pintar mais e projetar menos quando percebi que os jardins já não saiam com a mesma vivacidade. E com esses prédios sem graça você está arruinando a sua biografia Oscar. Aquele moço do New York Times escreve muita bobagem mas acertou na mosca em 2007 quando disse que você estava vivendo o suficiente para estragar sua própria obra. O Charles Moore ficou muito meu amigo (não sei como não o conheci antes, um amor o Charles) e sempre fala do arrependimento de fazer aquela Piazza di Italia em New Orleans. Uma pracinha a menos e a obra do Charles ficaria muito mais íntegra. Você já acumula uma dezena de “piazzas” Oscar e ainda quer fazer uma grande bem no meio do eixo monumental! Já não basta enfiar um auditório no meio da Casa do Baile, aquela biblioteca sem livros em Brasília ou esse Centro Administrativo no caminho de Confins. Aliás, passa em Confins pra você lembrar a beleza do detalhamento do Milton. Se você ainda tivesse gente como o Milton ou o Lelé pra detalhar seus esboços.... Você não precisa disso Oscar, já é de longe o mais importante arquiteto das Américas no século XX (o Frank tá aqui resmungando mas pra começar ele nasceu no século XIX). Desenhe Oscar. Escreva Oscar. Esse negócio de arquitetura dá trabalho demais e quando feito as pressas fica muito ruim. Olha, tá todo mundo mandando um abraço e dizendo pra você demorar bastante. Na verdade a gente morre de inveja da sua longevidade (e alguns do seu talento).
algum tempo depois ele acordou e foi se vestir. Ia receber muita gente no escritório para mostrar mais um projeto (desenhado ontem) para mais um político enraizado nas idéias e nas formas do século passado.
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on 30 de jun. de 2009
at terça-feira, junho 30, 2009
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Arquitetura
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