Toy, o poodle branco que dividia o apartamento com minha mãe e irmã morreu há algumas semanas, depois de 14 anos de serviços prestados ao stress e à alegria das duas.
Só quem convive com um bichinho em casa sabe a dor que é perder um amigo desses, e nem quero pensar na hora de nos despedirmos do O'Malley, da Manu ou da Joey.
De todo jeito, conversando com minha mãe, me preocupei com a idéia dela de adotar outro cachorro para, de um jeito meio torto, "substituir" o Toy. E me preocupei porque, sinceramente, não acho que elas tenham o perfil ideal para um dono de cachorro. Cachorros precisam de atividade, têm que sair de casa pelo menos duas vezes por dia, ter espaço para correr, para gastar energia. Não é um bicho para ficar sozinho dentro de um apartamento pequeno o dia inteiro, isso é receita para um bicho infeliz e doente. Elas até que conseguiram "manejar" o Toy durante esses anos todos, mas ainda acho ruim para os bichos.
Aí, eu sugeri que elas pensassem em adotar um gato, no lugar de um cachorro.
Gatos se viram melhor sozinhos, não precisam sair de casa, não se estressam tanto, têm um ritmo mais "devagar" que combina com elas, não requerem tantos cuidados com limpeza, não precisam (nem devem) ser confinados a um lugar específico da casa para passar a noite, são carinhosos, etc, etc...
E fiquei (mais uma vez) surpreso com a quantidade de preconceitos e idéias completamente espatafúrdias que as pessoas têm dos bichanos.
Gatos são traiçoeiros.
Gatos são interesseiros.
Gatos não gostam das pessoas, só do lugar onde vivem.
Gatos não interagem.
Putz, de onde é que essas idéias surgem?
Como é que esses mitos podem ser aplicados ao O'Malley, minha sombra, que anda atrás de mim onde quer que eu vá dentro de casa?
Ou à Manu, que se joga de barriga para cima todas as manhãs, como um sinal de "bom dia" ou fica buscando os bichinhos de pelúcia dela para que os coloquemos de volta no lugar e o ciclo se reinicie eternamente?
Ou à Joey, me esperando todas as noites no quarto para brincar por, pelo menos, 15 minutinhos - e ai de mim se não der essa atenção a ela, fica uns dois ou três dias sem "falar" comigo, emputecida.
O'Malley, brincando de brigar comigo, brincadeira de menino. Ou implorando, incansável, para que abramos a porta e o deixemos ir lá fora curtir um friozinho?
Manu, se esfregando em nossas pernas para pedir comida - e, depois que damos, se esfregando nas nossas pernas para agradecer.
Joey, subindo na cama e oferecendo a cabeça para ser acarinhada duas, três, quatro vezes antes de se dar por satisfeita e se enrodilhar colada com a gente, ronronando?
O'Malley, se deitando no sofá enquanto vemos tv e usando meu braço como travesseiro. Ou, pelo menos, encostando uma pata em mim, só dormindo depois que "fecha o curto".
Manu, miando como se estivesse chorando quando a deixamos no andar de baixo e subimos para o quarto sem, oficialmente, chamá-la.
Joey, que atende pelo nome, e sabe direitinho quando estamos chamando para dar carne para ela.
O'Malley, que se recusa a sair do lugar enquanto não o cumprimentamos quando chegamos em casa. Ou que pede para abrir a torneira da banheira para beber água de um filete ali. Ou que se senta na frente do potinho de água esperando que o limpemos e coloquemos água fresca para poder beber?
Ou...
a lista é interminável, e chata para quem não é gatófilo (acho que é chata até para quem é, desculpa aí).
De todo jeito, acho que minha mãe e minha irmã têm um perfil muito mais adequado para ter um gato que um cachorro, mas não sei se isso vai acontecer. E fico triste ao ver que isso só acontece por conta de um monte de inverdades que existe por aí e que, traiçoeiramente, viram "senso comum".
Enfim.