Sonado  

Posted by Max Amaral. in

... era aquela hora incerta da madrugada, entre 2:00 e 5:00. Tão incerta que você não consegue dizer se é 2:00 ou 5:00.
Eu estava em pé, no meio do quarto, a única luz que havia vinha do banheiro.
Eu não sabia se eu estava indo para o banheiro, voltando para a cama, se eu iria pegar a Erica para trocar a fralda e dar a mamadeira ou se já havia feito isso.
E demorei muito, muito tempo para conseguir descobrir o que fazer.
Bem vindo à minha vida...

Maria Cebolinha  

Posted by Max Amaral.

O tempo voa quando a gente tá se divertindo, né não?

Eu prometi a mim mesmo que viria aqui deixar um post comemorativo de um mês da Erica, segunda passada, e nada.

E hoje, que ela faz 5 semanas, crescendo e mostrando ao mundo a força de seus pulmões (mas só na frente da Mamãe e do Papai - é uma perfeita lady na frente dos avós ou de estranhos), resolvi só deixar uma imagenzinha dela.

O cabelinho na nuca é igualzinho...

Constatação  

Posted by Max Amaral. in

Veja bem: ninguém aqui está reclamando.
Quando falo isso é dando risada, mas nós não sabemos como é que vamos dar conta dessa pequena aqui.
Ela tem 23 dias de idade e já toca o terror, já nos "treinou" direitinho para fazer as suas vontades e nós não fazemos idéia de como vamos conseguir acompanhar o ritmo dela quando estiver andando e/ou falando.

Sim, estamos dando risada. É um riso nervoso, mas é riso assim mesmo.

Manteremos vocês informados.
.

Erica - ouça o disco  

Posted by Max Amaral. in ,

O pobrema é que ela mama a cada 2 ou 3 horas. E cada "mamada" dura até meia hora. E tem que trocar as fraldas. E tem que fazer ela dormir de novo, o que as vezes é difícil por causa das cólicas. E fazer arrotar. E trocar de roupa. E fazer o burrito.
Então, a cada 2 ou 3 horas, dá para dormir uns 45 minutos. Já deu para imaginar o meu estado de zumbi?
Não sei o que seria da gente sem os pais da De aqui para dar uma força.
Mas, enfim: para ajudar a dormir, começamos a testar músicas. E descobrimos que ela tem bom gosto, e que não gosta muito de pop rock nacional, não. Quer dizer, ainda não testei Skank direito, mas não se entusiasmou muito com os Paralamas, nem com o Tim Maia.
Mas clássicos americanos? ama! E gosta de Beethoven, também, veja você...
Então, seguem abaixo algumas das favoritas da nova rainha do pedaço. Ouça com moderação.


















a luta continua  

Posted by Max Amaral. in




E tinha o problema dos gatos.


De uma hora para outra, eles se descobriram sozinhos em casa, sem ninguém dormindo com eles. Eu aparecia rapidamente para limpar a caixa de areia, colocar comida, pegar alguma coisa e voltava correndo para o hospital.


Eles estavam completamente atarantados.


No hospital, no entanto, as coisas começavam a melhorar. Depois de dois dias no CTI, a Dê foi colocada em um quarto de terapia semi-intensiva, e já podíamos ficar lá com ela.


Essa foi a melhor parte da estadia no hospital: um quarto grande, enfermeiras praticamente do outro lado do corredor, super competentes e atenciosas.


Tinha uma da África do Sul que, juro, parecia ser uma vampira de um filme de 5a. categoria (coincidentemente, só trabalhava no plantão da noite... hummmm...). De novo, super competente e atenciosa, mas que tinha um rançozinho de apartheid ali, tinha. Ela vinha cuidar da Dê e ficava sempre uns bons 20 minutos discutindo política, principalmente o problema dos imigrantes nos EUA. E é assustador verificar que concordamos com muito do que ela falava, mas, enfim...


Bão, os rins da Dê voltaram a funcionar, assim como o fígado. Aos pouquinhos ela ia voltando a ter cor de gente. Os pulmões demoraram um pouco mais, teve que ficar no oxigênio um tempão ainda. A pressão continuava alta, e ela passou a usar umas "caneleiras" que ficavam o dia inteiro inflando e esvaziando, para evitar uma trombose nas pernas.


Trouxeram uma bomba para tentar estimular a produção de leite, e comemorávamos cada avanço - e eles foram rápidos: passamos de 1 para 2 ml, e daí para 5 ml. Dávamos para a Erica com uma seringa, e dava para ver que ela preferia o gosto do leite da mamãe à fórmula.


Nos últimos dois dias, nos mandaram para um quarto "normal".


Ficamos com saudades da semi-intensiva.


Enfermeiras de menos, evidentemente não tão boas quanto as outras, um quarto bem xinfrim (é assim que se escreve xinfrim?).


Nessa fase, com a Dê já sem soro, sondas e outras parafernálias, o destaque foi uma enfermeira que passamos a chamar de "cafeinada". A mulher parecia estar sempre a 300 por hora, era difícil até acompanhar a danada.


E foi ali que recebemos 1. uma garrafa de cidra de presente e 2. uma cobrança dos serviços. Essa da cobrança foi estranha. Além de não ter nada especificado, o valor era obviamente muito abaixo do que o que seria a conta final, e nem sabiam ainda quanto tempo iríamos ficar ali. A Dê ficou meio puta com isso, principalmente quando ligaram perguntando quando e como iríamos pagar. A resposta foi que pagaríamos quando o seguro nos encaminhasse a cobrança, simples assim.


Enfim, resumindo: a Dê foi melhorando, e pode receber alta. Erica estava (sempre esteve) muito bem, o pediatra a visitava todos os dias e via que não tínhamos nenhum motivo para nos preocuparmos com ela.


Finalmente fomos para casa, e passamos dois dias tensos antes que os pais da Denise chegassem para nos dar uma inestimável ajuda. Vão ficar um bom tempo aqui com a gente, então, de agora para a frente, é acompanhar o crescimento da Ratinha (já ganhou quase meio quilo desde que nasceu) e a recuperação da Dê (tem uma consulta com um nefrologista semana que vem para tentar entender o que ainda mantém sua pressão descontrolada). Fora isso, ela está bem, tirando um ou outro surto de pânico quando se dá conta de que tem uma bebê para tomar conta.


A vida por aqui está bem bagunçada, principalmente pelo fato de termos que acordar a cada 2 ou 3 horas durante toda a noite para trocar fraldas, dar de mamar e botar a infanta para dormir de novo, mas já começamos a encontrar um padrão. Nos próximos 18 anos, esperamos conseguir colocar a vida nos eixos, antes que a Erica vá para o MIT ou para Harvard (ela ainda não se decidiu).


E é isso.


Assim que tiver folga, volto para dar mais notícias. E colocar umas fotos. Eu juro que temos montes, mas falta organização e energia para baixá-las aqui para o computador.


Mas não perca a fé.


Ademã que eu vou em frente.


The Pinheiro Baby  

Posted by Max Amaral. in

Volto para o hospital e descubro onde é o CTI.
E aí começam a explicar as coisas: durante o parto, colocaram uma sonda na Dê para coletar urina. E a urina saiu da cor de coca-cola.
E ela começou a ficar amarela.
E os pulmões não estavam funcionando direito.
Ou seja, sem mais nem menos, havia falhas nos rins, no fígado e nos pulmões, além de problemas com as plaquetas do sangue. E pressão alta, completamente descontrolada.
Diagnóstico: Pré eclampsia, HELLP Sindrome (I) e um puta azar.
Além disso (sim, tem "além disso". Pensa que está falando com amadores?), a Dê tem um mioma no útero que foi monitorado até a 28 semana, sem mostrar nenhum crescimento. Pois esse negócio cresceu absurdamente nas últimas semanas de gestação, e estava do tamanho de uma laranja bem grande, e bem junto ao cervix. Nem se quisesse a Erica sairia por ali em um parto natural. Aliás, esse era o motivo de ela ter passado grande parte da gravidez de cabeça para baixo mas nunca ter "encaixado".
Falando em Erica, ela estava boa feito um côco: apesar de miudinha, extremamente saudável, alerta, comilona. As enfermeiras no berçario a apelidaram de "little peanut" (amendoinzinho), e a trataram super bem. Além disso, acho que ficaram com pena daquele pai ali, mais perdido que cachorro que caiu de caminhão de mudança.
Então, era esse o quadro: a Dê no CTI, eu com a Erica no quarto e, quando eu precisava fazer algo, a deixava no berçário. Mamando fórmula (leite artificial) em mamadeiras, depois de ter nascido de uma cesareana de emergência, com médicos desconhecidos, sem ter contato nenhum com a mãe.
Nem o pesadelo mais amedrontador da Denise foi tão longe.

Prontos ou não, aí vou eu!!  

Posted by Max Amaral. in

Bão,
por onde eu começo?
Acho que a primeira informação importante é: bebês não nascem depois de 9 meses de gestação. A média é 9 meses e meio, ou 40 semanas, depende muito de onde se conta, ninguém entende os critérios. Pelo menos, eu não entendo.
O que se concorda é que, logo no comecinho da gravidez, uma data provável para nascimento é estabelecida, e primeiros filhos tendem a nascer um pouco depois dessa data.
A menos que seja um filho meu.
Henrique nasceu 23 dias antes da hora marcada e a Erica resolveu dar as caras 2 semanas antes da hora.
E como é filha da Denise, resolveu fazer em grande estilo.
Primeiro, não basta ser antes da hora. Tem que ser completamente sem nenhum sinal prévio.
Sabe aquela história de que a hora do parto é avisada por uma série de contrações que vão se tornando cada vez mais próximas? Esquece.
A Dê foi para o trabalho sexta feira, dia 20, se sentindo completamente bem. Por sorte, já que teríamos uma consulta no começo da tarde e ela não iria voltar para a labuta depois, eu a levei de carro às 9 da manhã.
Iríamos ver Scott Pilgrim vs the World no fim da tarde, olha que maravilha.
Eu a deixei lá, levei o carro para trocar o óleo, parei para cortar o cabelo e fui para casa. Resolvi tomar um banho e, assim que saí do chuveiro, o telefone tocou.
A Dê dizia que estava se sentindo esquisita, e me pedia para ir pegá-la.
Estranho.
Mas nada urgente.
Terminei de me vestir e fui lá. E, quando cheguei, vi que alguma coisa errada estava acontecendo. Ela estava na calçada, amparada por dois colegas de trabalho, com uma cara esquisitíssima.
Entrou no carro com dificuldades e disse que era para irmos para a Casa de Partos - sim, não iríamos ter a Erica em um hospital, mas em um ambiente muito mais legal, bem hiporongo, com parteiras, velas, incensos, música da Enya e imagens de deuses hindus mais ou menos fidedignas.
E ela estava mal. Vomitou no carro, tinhas dores excruciantes (como é que se escreve excruciante?), que não aliviavam.
Chegamos lá e as parteiras nos deram duas notícias surpreendentes: 1. A Denise estava em pleno trabalho de parto. 2. As coisas não estavam acontecendo como programado.
Fizeram um ultrassom e viram que a Erica estava com a cabeça para cima. Além disso, não havia praticamente nenhuma dilatação. Tudo muito estranho.
Bão, para um parto natural onde o bebê não está de cabeça para baixo, nós teríamos que ir para o hospital.
Fomos.
Denise não parava de vomitar, e a dor não aliviava.
Era como se ela tivesse tido a primeira contração, mas essa contração nunca tivesse acabado.
Muito estranho.
Chegamos no hospital, as parteiras já haviam acionado o médico. Outro ultrassom e confirmado: Erica estava virada. Outra má notícia: a pressão da Denise estava nas alturas. E a dor que não aliviava, mais o vômito, indicava que algo de muito esquisito estava acontecendo ali.
O médico, que não conhecíamos, era um cara grisalho muito gente fina, parecido com nosso amigo Scott. E ele disse que não havia como tentarmos o parto natural naquele estágio, com a pressão da denise daquele jeito. Topamos, ela entrou nas drogas - grande alívio - e pode, pela primeira vez desde o começo da confusão, relaxar um pouco.
Fomos para a sala de parto, eu me vesti como um figurante de Plantão Médico, mais drogas, montes de gentes zumbindo em volta, panos para evitar a visão do que quer que fosse e, às 15:45 do dia 20 de agosto do ano da graça de nossa senhora do vamoquevamo de 2010, nascia para o mundo Erica Pinheiro Amaral, um ratinho pesando 2,274 kg e medindo 47 cm.
Nós havíamos contratado uma doula, Whitney, que estava lá com a gente. Eu fui para o berçario com a Erica para medições e outros procedimentos enquanto a Dê ficava lá com os médicos e com a Whitney.
Voltamos mais tarde, para uma sala de recuperação, e encontramos a Denise ainda grogue das drogas, mas louca de vontade de conhecer a filha direito. Colocamos uma sobre a outra - no caso, a filha sobre a mãe - e foi aí que me lembrei que os gatos haviam ficado em casa sem nenhuma comida, e que não tínhamos conosco nada para a bebê ou para a mamãe - roupas, fraldas, nada.
Combinei com a Whitney que ela ficaria ali com elas até eu voltar e disparei para casa.
Assim que cheguei, o telefone tocou de novo: A Dê piorou, e foi levada para o CTI, e a Erica foi levada para o berçário. E a Whitney não tinha autorização para ficar em nenhum dos dois lugares.
A segunda fase da odisséia estava começando.